terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Épocas festivas podem contribuir para a recaída de dependentes químicos

Como toda comemoração envolve costumes, a maioria deles baseado na ingestão de bebidas alcoólicas, alguns cuidados são essenciais.


Reunir a família no final de dezembro para celebrar o Natal é uma tradição, assim como festejar a passagem do ano. E como toda comemoração envolve costumes, a maioria deles baseado na ingestão de bebidas alcoólicas, alguns cuidados são essenciais, já que o álcool é a porta de entrada para outras diversas drogas ilícitas. Para ter uma ideia, a Clínica Nova Esperança, nos seus 27 anos atendendo dependentes químicos, já recebeu aproximadamente 5.500 pacientes. Deste total, mais de 70% começaram sua dependência com o álcool.

O início da questão vem de tempos. A partir do procedimento de destilação das bebidas surgem também as complicações, já que o teor alcoólico passou a ser mais alto. Em seguida, com a Revolução Industrial, essas bebidas passaram a ser fabricadas em série e, como o período era de mudanças comportamentais, iniciaram-se, juntamente com a revolução, os problemas decorrentes pelos abusos excessivos.

O consumo de álcool é um antigo hábito cultural das sociedades. Nesse contexto, para evitar recaídas de dependentes químicos em épocas festivas é preciso cautela nas comemorações, já que as bebidas alcoólicas são socialmente aceitas e, geralmente, associadas ao bem-estar e momentos de descontração. O álcool, por sua vez, tem presença marcante em diversos ambientes e situações, contribuindo assim para que as chances de recaídas de dependentes químicos aumentem.

Ao comemorar é preciso prevenir os abusos alcoólicos, que podem ter diversas consequências. Os dependentes químicos, normalmente, passam por períodos longos de tratamento, envolvendo família, trabalho e amigos, além das mudanças comportamentais com as quais precisam lidar.

Isso quer dizer que em meio às comemorações e ao clima de festa, os dependentes químicos em recuperação têm grandes chances de voltar a adoecer. “As famílias e as empresas tem que começar a se informar sobre o problema. As famílias dos dependentes podem muito bem se abster de álcool. E as escolas e empresas precisam começar a discutir o uso tão permissivo do álcool”, adverte a diretora geral Aracélis Copedê.

sábado, 5 de dezembro de 2015

Grupo ”Surfe Seguro” da Clínica Nova Esperança completa cinco anos


O esporte é um fator contribuinte no tratamento da dependência química

Fundado no dia cinco de dezembro de 2010, pelo médico psiquiatra e responsável técnico da Clínica Nova Esperança José Leão de Carvalho Junior, o grupo “Surfe Seguro” completa hoje cinco anos. O grupo foi idealizado com a perspectiva de contribuir no tratamento da dependência química, cooperando assim na manutenção da abstinência dos pacientes e na reestruturação de suas vidas, já que qualquer prática esportiva auxilia no bem-estar físico, emocional e social.

O tratamento da dependência química exige mudanças comportamentais e, na busca pela abstinência, a maioria dos pacientes apresenta grandes dificuldades para reencontrar o prazer em suas vidas. Na tentativa de despertar motivação para realizar atividades físicas e usufruir de todos os benefícios que a prática proporciona, Leão percebeu que boa parte dos pacientes gostava de surfar, mas que o esporte estava ligado ao uso das substâncias químicas. Sendo assim, o médico começou a pensar em maneiras de proporcionar o prazer do surfe aos pacientes, já que pratica o esporte há mais de 40 anos. “Só do surfe, desassociado das drogas. Muitos pacientes praticamente nunca tinham surfado sem usá-las”.

Leão partiu do princípio de que se eles conseguissem reencontrar o prazer no surfe poderiam estender este reencontro para outras atividades em suas vidas, que é uma das diretrizes do tratamento da dependência química para a fase da manutenção da abstinência. Foi assim que surgiu o grupo Surfe Seguro.

Estar abstinente é um critério fundamental, mas para ser participante há também outras regras: ter feito tratamento na Clínica Nova Esperança e ainda estar participando de qualquer atividade terapêutica na mesma; ser surfista; ter autorização da sua família e de seu terapeuta de referência; comparecer em todas as reuniões do grupo e ser aprovado pelos seus integrantes.

A atividade é programada e organizada na reunião: o horário e local de encontro, a praia, os melhores dias de ondulação, etc. No dia marcado, vão de carro e dividem as despesas de combustível e pedágios. Cada detalhe da viagem é decidido coletivamente e é preciso permanecer relativamente próximos uns dos outros. Geralmente, ninguém sai sozinho, pois os participantes têm uma saudável noção de proteção uns aos outros.

Na prática do surfe há muitos usuários e dependentes de substâncias psicoativas, o que acaba por se tornar uma atividade relacionada ao uso. “Ao se instalar a dependência química, todo prazer fica ligado ao uso das drogas. Vários pacientes relatam que não podem mais ir a parques, baladas e praia, pois tais ambientes são perigosos para a manutenção de suas abstinências”, afirma o médico. No início do grupo, havia o medo de alguém sair do mar e encontrar alguma pessoa da “ativa” e, assim, ter uma recaída. No entanto, o Leão afirma que hoje em dia a maioria dos participantes já está em condições de surfar sem o grupo.

Como o surfe é um esporte que exige um bom condicionamento físico, outras práticas esportivas são sugeridas e estimuladas para melhorar o condicionamento e o aproveitamento nas sessões de surfe. Pode ser musculação, natação, atividades aeróbicas, etc. Vale lembrar que a maioria dos participantes está com alguma prática esportiva regular.

Leão afirma que há um sentimento de pertencimento ao grupo, de esforço, de cuidado uns com os outros, de cooperação e sinais de estabelecimento de vínculos saudáveis. “Creio que o Surfe Seguro esteja contribuindo para melhorar a qualidade de vida e o relacionamento familiar e social dos participantes”, declara o médico.

Superação

Um ótimo exemplo é a história de um dos primeiros participantes do grupo, Fernando Vianna, que mantêm a abstinência há cinco anos e meio. Ele estava em um processo de pós-recaída quando Leão sugeriu a sua participação no grupo.  “Foi uma oportunidade de voltar a praticar um esporte que gosto muito, mas de uma forma protetiva”, conta. O destino da primeira viagem foi a Ilha do Mel, um local que sempre foi ligado à “ativa” para Vianna. No entanto, aquele momento foi benéfico, o que possibilitou que o surfista visse a praia e aproveitasse as ondas de maneira diferente. A viagem pioneira do grupo também despertou sua preocupação em melhorar o condicionamento físico para surfar e a dedicação em manter-se em equilíbrio para continuar participando do grupo.

Desde então, Vianna adotou novos hábitos saudáveis: mudou a alimentação, parou de fumar, começou a nadar e correr e já participou de três maratonas. Como resultado, eliminou 32 quilos em cinco anos e meio e garante que hoje tem uma serenidade e um equilíbrio que nunca imaginou ter.  

Benefícios dos esportes para dependentes químicos

Exercícios físicos são essenciais para o tratamento visto como um todo e fundamentais em qualquer transtorno mental. Devem ser feitos de maneira regular, dentro dos limites de cada um e, de preferência, diariamente. A reorganização metabólica e hormonal que a prática regular de exercícios físicos promove é bastante benéfica para o funcionamento cerebral e para o psiquismo de modo geral. O dependente químico em abstinência geralmente está fragilizado em suas funções psíquicas, sendo que muitas vezes adquiriu também alguma comorbidade psiquiátrica. Portanto, a atividade física é sempre terapêutica.

A professora de educação física da Clínica, Thania Fratoni, salienta que a atividade física cumpre o papel de melhorar a condição física e mental dos pacientes, normalizar as áreas de atenção, memória e controle motor, além de controlar a ansiedade. Contribui também para o aumento dos níveis de serotonina nas áreas de humor, da síntese e liberação de endorfina, da força e resistência muscular, da flexibilidade do tônus muscular e da agilidade, reduzindo a gordura corporal, depressão, compulsão e estresse. A sensação de prazer durante os exercícios físicos, inclusive, é a mesma de quando se usa drogas.

O grupo "Surfe Seguro" costuma ir para a Ilha do Mel, Guaratuba,
Navegantes, entre outras praias.