segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Preconceito é um dos principais desafios no tratamento da dependência química

O diálogo e o acesso à informação são fundamentais para o melhor entendimento da dimensão da doença.

     Embora o uso de drogas na sociedade ganhe mais visibilidade nos quesitos de segurança e repressão, a questão é bem mais ampla. O uso indevido de drogas é um dos mais graves problemas de saúde na atualidade, atingindo todas as faixas de idade e classes, tendo um alto custo social, econômico e emocional, pois não prejudica apenas o dependente, mas a sua família, os amigos e a comunidade. Atinge diretamente a produtividade de trabalhadores e o desempenho de estudantes, além de provocar violências, acidentes e diversas outras enfermidades.

     Nesse contexto, a aceitação da doença e a superação do preconceito são essenciais para o tratamento da dependência química. Diante de determinadas enfermidades, que exigem mudanças comportamentais, não há relutância na aquisição de novos hábitos para a busca da recuperação e da saúde. Mas, quando se trata da dependência química, a aceitação não é tão rápida e enfrenta diversos fatores que dificultam a procura por um tratamento, agravando as consequências e riscos. O preconceito é um dos principais obstáculos considerados pelos profissionais da saúde mental, pois não envolve apenas o próprio enfermo, mas também sua família, amigos e a sociedade em geral.

     No entanto, antes de lidar com a questão do preconceito, é preciso compreender o conceito de dependência química. A Organização Mundial da Saúde (OMS) a conceitua como um transtorno bio-psico-social, causada tanto por drogas lícitas (álcool e medicamentos) como ilícitas (maconha, cocaína, crack, ecstasy, entre outras). José Leão de Carvalho Junior, médico psiquiatra e responsável técnico da Clínica de Recuperação Nova Esperança, esclarece que ela faz com que o doente reduza sua consideração com os outros e seu próprio senso crítico, além de cometer atos antissociais. Os efeitos do álcool e outras drogas estão associados a diversas outras questões, que acabam por reforçar o preconceito, postergar a busca por ajuda profissional e dificultar o entendimento de que realmente há a necessidade de tratamento.

     Diante da marginalização do dependente químico, a doença é comumente caracterizada como falta de caráter. O fato é que o preconceito existe, seja no interior da família, entre amigos, no ambiente profissional e na sociedade como um todo, o que dificulta as ações preventivas e formas de repressão.


A informação como ferramenta de combate

   Para o psiquiatra, a melhor maneira de lidar com a resistência da sociedade em aceitar a dependência química como doença e combater o preconceito envolvido é o conhecimento. “O diálogo e o acesso à informação são fundamentais. Cerca de 10 a 15% da população mundial tem uma predisposição a desenvolver a doença (isso excluindo os tabagistas, pois com eles a taxa sobe para 20%) e ainda não existem exames laboratoriais que possam detectar se uma criança vai se tornar dependente químico quando crescer”, esclarece.

     Leão ressalta ainda que proibir ou criminalizar a venda e o consumo de drogas não vai impedir nem reduzir o uso e o comércio.  A prioridade deveria ser a circulação de informações verdadeiras, o oposto das propagandas de bebidas alcoólicas que relacionam as drogas a algo positivo. “O Estado deveria intervir fortemente em comunicação, informando os prejuízos e riscos do uso de cada uma das drogas”, salienta o médico.

     Superar o preconceito é uma forma de abrir novos caminhos para promover a prevenção e combater o problema, contribuindo assim para o melhor entendimento da dimensão da doença. É um desafio a ser enfrentado.