quarta-feira, 20 de abril de 2016

Álcool e outras drogas nas escolas: um desafio para a educação

Para combater o problema, a informação é uma ferramenta primordial.
 
 
O ambiente escolar não é um lugar restrito apenas ao ensino dos conteúdos programados das disciplinas. Por ser um espaço de convivência, a atuação da escola envolve também a formação dos estudantes como seres humanos em diferentes aspectos. É neste contexto que entra em cena o papel multidisciplinar dos professores no desenvolvimento das crianças e adolescentes, seja na questão educacional, familiar, emocional, social, de valores ou outras.
 
Quando o problema do álcool e outras drogas bate na porta das escolas, é preciso um trabalho em conjunto, envolvendo instituição, família, profissionais de saúde mental e comunidade, para evitar que a responsabilidade caia apenas em uma das partes. Ao longo dos anos, o uso e abuso de substâncias químicas vem aumentando drasticamente e acontecendo cada vez mais cedo na vida dos indivíduos. Esse uso indiscriminado de drogas envolve diferentes fatores, sejam políticos, sociais, psicológicos, profissionais ou educacionais.
 
Visto que os professores têm forte influência no desenvolvimento de comportamentos e posturas dos estudantes, o ambiente educacional representa um lugar privilegiado para o desenvolvimento de ações preventivas, já que o aprendizado adquirido na escola influencia o aluno em outros contextos. Mas, para isso, é preciso que os profissionais estejam preparados para lidar com a dimensão da questão.
 
A psicóloga e assistente social da Clínica de Recuperação Nova Esperança, Silvana de Jesus Steff, destaca a ansiedade por parte dos educadores, que abrange pontos pessoais dos mesmos e, às vezes, sentimento de culpa, e a falta de abordagem do tema nos cursos de formação, já que as substâncias químicas afetam a sociedade de maneira geral.
 
Diante da dimensão do problema, o psicólogo Adriano Soares Amaro, que também faz parte da equipe terapêutica da Nova Esperança, ressalta a importância da informação sobre os efeitos e consequências do uso e abuso de drogas. Considerando a negação e o preconceito como vilões que dificultam ações preventivas e de combate, o conhecimento se torna essencial para que a sociedade discuta e aborde o assunto com mais frequência. “A repressão não traz os resultados esperados. Então, a melhor maneira de lidar com o problema é a prevenção”, expõe.
 
Mudanças comportamentais, faltas, baixo desempenho e abandono escolar, podem estar relacionados ao uso de drogas, segundo Steff. O educador, por sua vez, pode contribuir incentivando a reflexão e adotando medidas na própria instituição, em conjunto com os demais setores envolvidos, e atuando diretamente com seus alunos na sala de aula.
 
A abordagem com os estudantes deve ser feita de maneira não discriminatória, mas sim protetiva. Uma das alternativas para lidar com a situação é a promoção de diálogos afetivos, ou seja, a abertura de espaço para que os alunos falem sobre suas emoções. O processo de prevenção não envolve apenas o assunto propriamente dito, mas também considerações sobre comportamentos, valores, planos e a vida como um todo.
 
A psicóloga salienta que é preciso identificar os fatores de risco de cada instituição, ou seja, as circunstâncias sociais ou características que deixam a pessoa mais vulnerável a assumir comportamentos arriscados, como o uso de drogas. Há também os fatores de proteção, que equilibram as vulnerabilidades, fazendo com que a pessoa tenha menos chance de tomar determinadas atitudes. Os fatores de risco e de proteção estão na própria pessoa, família, amigos, escola, trabalho, comunidade e sociedade em geral. Para reconhecê-los, é preciso, antes de tudo, ter conhecimento sobre a realidade e história de cada estabelecimento. “Para combater o problema, é preciso utilizar os fatores disponíveis a favor do contexto”, afirma Steff.
 
Aracélis Canelada Copedê, diretora geral da Clínica, chama atenção para a permissividade da sociedade em relação ao uso do álcool, que envolve comportamentos e hábitos culturais, além de ter grande aceitação social. “Cerca de 10 a 15% da população mundial nasce com uma predisposição genética a desenvolver a dependência química. Como ainda não existem exames que possam identificar essa condição, a prevenção é muito importante para que as próximas gerações se formem de maneira mais consciente”, ressalta.
 
Os dados mais recentes, da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (2012) do IBGE, mostram que 66% dos escolares de 13 a 15 anos já haviam experimentado álcool, sendo que o indicador foi maior na Região Sul (76,9%). 21% dos escolares já tiveram episódios de embriagues e novamente a Região Sul se destaca, com 27,4% do total. 7,3% dos escolares já fizeram uso de alguma droga ilícita, tendo os maiores índices nas Regiões Centro-Oeste (9,3%) e Sul (8,8%). 2,6% dos escolares de 15 anos que usaram drogas, experimentaram a substância antes dos 13, sendo que 4,4% desse total são da Região Sul, o maior percentual.
 
Diante da preocupante realidade que os dados mostram, a equipe terapêutica da Nova Esperança, que se dedica ao tratamento da dependência química há mais de 27 anos, garante que quanto mais cedo prevenir, melhor. É preciso encontrar novos caminhos para evitar que as drogas invadam o ambiente escolar.