terça-feira, 27 de maio de 2014

Musicoterapia como parte do tratamento da dependência química


Os benefícios da musicoterapia no tratamento para dependentes químicos são inúmeros. Segundo a musicoterapeuta da Clínica Nova Esperança, Ana Paula Chizzolini Cervellini, a música é capaz de restabelecer o equilíbrio emocional, o convívio social, a identidade, o estímulo da memória e atenção, a promoção da organização, autonomia e autoexpressão, além de proporcionar momentos de prazer e descontração e aumentar a consciência de si mesmo.

Uma variedade grande de atividades é realizada nos grupos, como improvisações com instrumentos musicais, relaxamento, reflexão sobre a letra das canções, e também atividades de consciência corporal.

Os pacientes reagem bem, pois, no geral, o dependente químico é muito criativo. Uma das atividades marcantes foi a paródia da música “Rehab” da cantora Amy Winehouse, que faleceu devido o excesso de álcool. "Nós já fizemos algumas músicas, inclusive composições próprias. A paródia de "Rehab" ganhou o apoio do estúdio Beethoven Haus, que ofereceu a gravação”.

Cervellini explica que a paródia consiste em utilizar uma canção que já existe e modificar a letra. "Muita gente pensa que paródia é uma versão engraçada de uma música, mas não necessariamente. Na musicoterapia nós a utilizamos para ressignificar uma canção ou para falar de algum sentimento importante para o paciente ou para o grupo", explica.

A história dessa última paródia foi marcante, pois os pacientes pediram "Rehab" para ouvirem na sessão, mas como uma brincadeira, pois na letra a cantora fala que tentaram levá-la para a reabilitação, mas ela disse que não. Então, ao ouvirem a música, foi proposto que eles fizessem uma paródia contando a história de quem se tratou e está abstinente e vivo, ao contrario da cantora.

Confiram o resultado:






segunda-feira, 12 de maio de 2014

Surfe no tratamento para dependentes químicos

Práticas esportivas auxiliam no bem estar físico, emocional e social.

Visto que uma pessoa saudável não significa apenas não estar doente, mas sim estar bem física, emocional e socialmente, que tal abordar a prática de exercícios físicos para o bem-estar de dependentes químicos? Vale ressaltar que atividades físicas nesses casos são de extrema importância, auxiliando em todas as questões da vida do individuo, pois qualquer tipo de dependência é uma doença contagiante, pois afeta não apenas o doente em questão, mas sim todos ao seu arredor.

Exercícios físicos são essenciais para o tratamento visto como um todo, pois, nas palavras do médico José Leão de Carvalho Júnior, da Clínica Nova Esperança, os exercícios físicos são fundamentais no tratamento de qualquer transtorno mental. Devem ser feitos de maneira regular, dentro dos limites de cada um, de preferência diariamente. A reorganização metabólica e hormonal que a prática regular de exercícios físicos promove é extremamente benéfica para o funcionamento cerebral e para o psiquismo de modo geral. O dependente químico em abstinência geralmente está fragilizado em suas funções psíquicas, sendo que muitas vezes adquiriu também uma comorbidade psiquiátrica. Portanto a atividade física é sempre terapêutica para eles. Ainda em tratamento e tentando manter-se em abstinência, a maioria dos pacientes encontra grandes dificuldades para reencontrar o prazer em suas vidas.

Leão surfa há mais de 35 anos. Por esta razão, ele ficou mais sensibilizado com esta limitação de seus pacientes e buscou uma maneira de ajudá-los na recuperação da dependência química e na reestruturação de suas vidas quando abstinentes.

Começou então a pensar em maneiras de proporcionar a eles o prazer do surfe. “Só do surfe, desassociado das drogas. Muitos pacientes praticamente nunca surfaram sem usá-las”, conta. Ele partiu do princípio de que se eles conseguirem reencontrar o prazer no surf poderiam estender este reencontro para outras atividades em suas vidas. E esta é uma das diretrizes do tratamento da dependência química para a fase de manutenção da abstinência. De início, propôs a ideia para a equipe técnica da Clínica Nova Esperança. Após receber o apoio, fez a proposta ao conjunto dos pacientes em atendimento.

Em dezembro de 2010 teve início o Surf Protetivo. Para ser participante, o grupo definiu alguns parâmetros para a participação na atividade: ter feito tratamento na Clínica Nova Esperança e ainda estar participando de qualquer atividade terapêutica na mesma; ser surfista; ter autorização de sua família e de seu terapeuta de referência; comparecer às reuniões do grupo e ser aprovado pelos seus integrantes. O grupo costuma ir à Ilha do Mel. 

A atividade é programada e organizada na reunião: horário e local de encontro, qual praia, melhores dias de ondulação, etc. No dia marcado, vão de carro e dividem as despesas de combustível e pedágios. Cada detalhe da viagem é decidido coletivamente. Ao chegar à praia, estabelecem um local para deixarem os pertences e caem na água. É preciso ficar surfando relativamente próximos uns dos outros e, quando alguém quer sair da água, deve informar aonde vai, fazer o que e o porquê. Geralmente, ninguém sai sozinho, pois os participantes têm uma saudável noção de proteção uns aos outros. Quando bate a fome, todos saem juntos da água e vão almoçar. Após a refeição, o grupo decide se volta para água ou se vai embora.

O médico acrescenta que há o medo de alguém sair do mar e encontrar alguma pessoa da “ativa” e ter uma recaída. Quase todos pacientes surfistas relatam que não podem mais surfar, pois, apesar de ser um esporte, no meio do surf há muitos usuários e dependentes de substâncias psicoativas e esta acaba por se tornar uma atividade relacionada ao uso. “Ao se instalar a dependência química, todo prazer fica ligado ao uso da substância psicoativa. Vários pacientes relatam que não podem mais ir a baladas, parques e praia, pois tais ambientes são perigosos para a manutenção de suas abstinências”, afirma o médico.

Leão salienta também que sempre é falado nas reuniões que estar abstinente é um critério fundamental. Nos encontros e nos atendimentos clínicos outros tipos de práticas esportivas sempre são estimulados para melhorar o condicionamento e o aproveitamento nas sessões de surf. Pode ser musculação, natação, atividades aeróbicas, etc. Vale lembrar que a maioria dos participantes está com alguma prática esportiva regular.

O doutor afirma perceber um sentimento de pertencimento ao grupo, de esforço de cuidado uns dos outros, de cooperação e sinais de estabelecimento de vínculos saudáveis. Alguns familiares e terapeutas têm dado informações positivas. “Quero crer que o Surf Protetivo esteja contribuindo para melhorar a qualidade de vida e o relacionamento familiar e social dos seus participantes”, expõe o médico. Aracélis Canelada Copedê Filha, diretora geral da Clínica, acrescenta que esse tipo de empreitada auxilia muito na recuperação dos pacientes. “Muitos jovens, que não tinham coragem de realizar nenhum tipo de esporte, passaram a ter confiança e sentir que podem fazer qualquer prática esportiva, desde que não usem álcool e ou outras substâncias psicoativas e estejam em um grupo de esportistas ‘protetivos’, ou seja, que não façam uso de drogas que causam dependência”, afirma.

terça-feira, 6 de maio de 2014

A liberação da maconha do ponto de vista da saúde mental


A discussão sobre a legalização da maconha tem gerado muita polêmica. Mas o que significa isso do ponto de vista da saúde mental?
De acordo com a diretora geral da Clínica de Recuperação Nova Esperança, Aracélis Canelada Copedê, com a legalização da maconha, o aumento considerável de dinheiro na economia e também nos impostos não conseguirá pagar o ônus dos prejuízos que vão ser causados, principalmente aos adolescentes.
Ainda que o uso só seja permitido para maiores de idade, o número de adolescentes usuários, obviamente, aumentará. Com isso, teremos um aumento de indivíduos que vão desenvolver outras patologias mentais, pois a maconha é uma droga alucinógena e uma das que mais desencadeia surtos psicóticos. 
O médico psiquiatra José Leão de Carvalho Junior, ressalta que falta informações a respeito do uso terapêutico de maconha. O médico explica que a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece apenas a indicação da maconha para ajudar no tratamento da anorexia e náusea em pacientes de câncer e AIDS. A OMS afirma que qualquer outra aplicação da erva não está respaldada por pesquisas científicas. “E, claro, a OMS alerta que o uso desta planta eleva o risco de dano cognitivo, doenças respiratórias e psicoses. Nós sabemos que o risco é grande para muitas outras doenças”.
Leão explica que as drogas psicoativas podem afetar diversos fatores, como o desenvolvimento escolar, por exemplo. A mais evidente é a maconha, por provocar danos cerebrais precocemente. Começa afetando a memória e a capacidade de manter a atenção e a concentração. Com a progressão dos danos, gradativamente, a capacidade de raciocinar vai sendo prejudicada. O crack é muito mais lesivo, mas vale lembrar que quem é usuário de crack já é dependente de outra droga (álcool, maconha ou cocaína inalada) e o desenvolvimento escolar, na maioria dos casos, já está prejudicado quando o indivíduo começa o uso.
 A legalização da maconha, para a diretora, nesse momento, para o Brasil, seria uma catástrofe, “pois não estamos dando conta nem da questão álcool, como vamos dar conta da questão maconha?”. A esperança, para a diretora, é que uma educação extremamente preventiva seja implantada.