domingo, 15 de maio de 2016

Codependência, a família do dependente químico também adoece.

A participação da família no tratamento é essencial para a recuperação do paciente.

Quando se fala em dependência química, entendemos que é uma doença que afeta o indivíduo nos aspectos físico, emocional e social e, por isso, necessita de uma abordagem multidisciplinar. Trata-se de uma doença contagiante e, ao afetar os familiares, faz com que os mesmos adoeçam junto com o dependente, adotando comportamentos que podem, inclusive, contribuir para o uso, abuso e dependência de substâncias químicas. Sendo assim, é uma doença que não pode ser abordada sem considerar o contexto familiar.
 
A codependência, a doença da família, tem base nos comportamentos inadequados que surgem nos lares quando as drogas estão presentes. Carla Cristina Cabral, psicóloga da Clínica de Recuperação Nova Esperança, afirma que as atitudes codependentes aparecem nas relações familiares por meio de diversos tipos de sofrimentos, como dores emocionais e adoecimentos físico e psíquico. Sendo assim, o ambiente familiar adoece e, por esta razão, necessita de tratamento, assim como o dependente químico.
 
Considerando a importância da participação da família no tratamento da dependência química, na Clínica Nova Esperança, os familiares também são atendidos e recebem uma atenção especial. O Programa de Apoio à Família tem a função de prestar informações e orientações aos familiares com o intuito de prepará-los de maneira que possam contribuir de modo mais eficaz no tratamento dos pacientes, inclusive, evitando recaídas. As atividades, dentro do programa, incluem de seminários, grupos terapêuticos e grupos de apoio.
 
“A adesão da família ao programa de tratamento é um fator contribuinte importantíssimo para a recuperação”, ressalta a diretora geral da clínica, Aracélis Canelada Copedê. O atendimento aos familiares inicia desde o momento em que eles procuram informações, ocasião na qual já são orientados, até mesmo, a como abordar o paciente para trazê-lo à clínica.
 
A dependência química, uma doença que apresenta sintomas complexos e ocasiona mudanças comportamentais, pode gerar preconceito por parte da família, dos pacientes e da sociedade como um todo, o que, na maioria das vezes, dificulta a aceitação e a procura por tratamento. É por meio das informações sobre as características da dependência química que os familiares vão compreender e aceitar que o seu familiar tem uma doença.
 
Convivendo diariamente com dependentes químicos e suas famílias, Copedê salienta que a educação deve ser levada em consideração antes do nascimento. Gestantes, crianças e adolescentes, até os 18 anos, não deveriam usar álcool em nenhuma hipótese. Depois da maioridade, seria um uso consciente das consequências. A melhor maneira de combater o álcool e outras drogas é a prevenção.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

A Importância da Enfermagem no Tratamento da Dependência Química

O enfermeiro tem papel fundamental, pois acompanha todo o processo de recuperação.
 
Conceituada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um transtorno bio-psico-social, a dependência química é uma doença comportamental que pode ser causada tanto por drogas lícitas (álcool, medicamentos) como ilícitas (maconha, cocaína, crack, ecstasy, entre outras).
 
Devido às características da doença, é preciso abordagem e tratamento multidisciplinares. E o profissional da Enfermagem, nesse contexto, tem papel fundamental, pois acompanha todo o processo de recuperação, começando pela desintoxicação, passando pela complexa fase de abstinência, questões físicas e emocionais, entre outras.
 
Sendo assim, para que a sua função seja exercida de maneira correta e a assistência aos pacientes seja eficaz, adequada e humana, o profissional precisa superar qualquer preconceito existente, devido ao seu importante papel de educador em saúde. “Reconhecer o outro como sujeito é uma imposição para quem deseja exercer a assistência ao usuário de drogas”, afirma Marcelo Antocheski, enfermeiro da Clínica Nova Esperança.
 
A Enfermagem é uma profissão com amplas possibilidades de acesso aos indivíduos envolvidos com substâncias químicas. Estar presente em todas as fases do tratamento é o que caracteriza a importância da inclusão do enfermeiro nas estratégias de enfrentamento. Segundo Antocheski, indivíduos que fazem uso de drogas tendem a desenvolver múltiplos problemas físicos, como emagrecimento precoce, destruição cartilaginosa nasal, entre outras complicações.
 
Por esta razão, o conhecimento dos profissionais da enfermagem sobre o assunto facilita o enfrentamento dos pacientes durante o tratamento, uma vez que durante a recuperação há um difícil período de abstinência, fase em que a falta da droga pode causar alterações de humor, podendo levar o paciente a desistir do tratamento.
 
Ao atuar com dependentes químicos, o enfermeiro deve praticar modos de cuidar que sejam resolutivos, sem perder a característica humana no processo. Na escuta de histórias de vida que são relatadas, por exemplo, o enfermeiro é capaz de reconhecer os problemas relacionados ao uso de drogas, bem como realizar o acolhimento e sensibilização.
 
Diante de todas as complexas questões envoltas no fenômeno das drogas, a identificação dos princípios que norteiam as concepções dos enfermeiros é fundamental, pois permite a análise e compreensão de sua atuação diante do problema.
 
 
Perfil dos pacientes ao longo dos anos
 
Nos 27 anos de história, a Clínica Nova Esperança já atendeu 5550 pacientes, apenas na modalidade de internamento. Nos primeiros oito anos, os pacientes eram dependentes de uma única droga, ou no máximo, de duas: álcool e cocaína, normalmente. No período de 1994 para 1995, a instituição começou a receber pacientes usuários de crack. A partir do final dos anos 1990 e início do século XXI, a idade dos dependentes químicos passou a ser cada vez menor. “Já recebemos pacientes muito comprometidos até com 12 e 13 anos”, conta Aracélis Canelada Copedê, diretora geral.
 
Atualmente, o perfil é outro: a maioria é dependente de múltiplas drogas. Com o advento do crack, a estrutura física da Clínica teve que ser remodelada. Sendo assim, hoje, lidamos com uma população mais agressiva e com síndrome de abstinência mais dolorosa, o que interfere no relacionamento e na convivência entre pacientes e profissionais, em especial da Enfermagem.
 
 
Informação e educação como formas de combate
 
Cerca de 10 a 15% da população mundial nasce com uma predisposição a desenvolver a dependência química, uma doença que não diferencia gênero, classe social, nem raça. Os problemas decorrentes do uso indiscriminado de drogas estão bastante notórios, com efeitos e consequências se alastrando por diferentes fatores na sociedade. Para compreender a dimensão do problema, é preciso que o tema seja mais abordado e discutido, para levar informações para as pessoas sobre o real risco das drogas, diminuindo assim o preconceito e contribuindo com a questão da reintegração dos dependentes químicos na sociedade. É um desafio que não cabe somente aos profissionais da enfermagem, mas sim a toda a sociedade.