terça-feira, 8 de março de 2016

Dia Internacional da Mulher: a Sensibilidade Feminina Ameaçada pela Dependência Química

Mulheres representam 27% dos pacientes da Clínica Nova Esperança.
 
Hoje, Dia Internacional da Mulher, nada mais apropriado do que falar a respeito do envolvimento das mulheres com o álcool e outras drogas, que vem aumentando a cada dia em meio ao contexto histórico de lutas e conquistas sociais, econômicas e políticas do sexo feminino. Atuando há 27 anos no tratamento da dependência química, a equipe terapêutica da Clínica Nova Esperança percebeu que o envolvimento das mulheres com as drogas começou a partir da década de 1970. “Eram mulheres excepcionalmente alcoolistas ou dependentes de medicamentos, algumas usuárias de maconha e outras poucas de cocaína”, conta Aracélis Canelada Copedê, diretora geral. Quando a clínica foi fundada, as mulheres representavam no máximo 10% dos internamentos. Em 2013, o índice subiu para 20% e, atualmente, elas representam 27% dos pacientes. Outras pesquisas também comprovam o crescimento do envolvimento delas com as drogas. Segundo o Ministério da Saúde, houve um aumento de 30% no abuso de álcool entre mulheres, entre os anos 2006 e 2010. Dados da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), divulgado em 2012, aponta um índice de 54% de dependência de crack entre mulheres, contra 46% entre os homens. O levantamento indica ainda que 40% das usuárias fizeram uso de drogas mais de duas vezes por semana, enquanto 24% dos homens afirmaram o mesmo.

O organismo feminino é mais suscetível aos efeitos do álcool
O índice de consumo de álcool por homens é mais alto, mas, no contexto atual, as mulheres estão caminhando para beber tanto quanto eles. No entanto, o organismo feminino é mais frágil e suscetível aos efeitos nocivos da substância. As mulheres correm mais riscos que os homens na maioria das doenças porque o organismo delas tem níveis menores da enzima (álcool-desidrogenase) que ajuda a metabolizar o álcool ingerido, o que provoca uma concentração plasmática de álcool cerca de 30% mais alta do que em um homem, como explica o médico psiquiatra da Clínica, José Leão de Carvalho Junior. O volume de sangue das mulheres também é menor, sendo assim, a mesma quantidade de qualquer droga ingerida por uma mulher e um homem acarreta uma concentração sanguínea maior na mulher.
Muito se fala no benefício do consumo moderado de bebidas alcoólicas. No entanto, o psiquiatra ressalta que não existe uma quantidade que seja inócua para o organismo, seja para o homem ou para a mulher. O que o álcool provoca é um prazer que, pelo gosto e pelas alterações psíquicas, pode causar relaxamento e sonolência, assim como redução do senso crítico. “Quanto menos beber, melhor. Ou, quanto menos beber, menos pior”, salienta.
As principais doenças causadas pelo álcool e outras drogas, de acordo com o médico, são: demência, depressão, psicoses, distúrbios neurológicos, gastrite, úlcera, câncer de estômago, hepatite, esteatose, cirrose, câncer de fígado, varizes de esôfago, hemorroidas, varizes em membros inferiores, arritmias cardíacas, infarto do miocárdio, impotência sexual (frigidez no caso das mulheres), tromboses, embolias, acidentes vasculares cerebrais, anemia, distúrbios da coagulação, distúrbios imunológicos, diabetes, pancreatites, câncer de pâncreas, entre outras.
Álcool durante a gestação
Se a ingestão de álcool pode prejudicar o organismo, causando inúmeras doenças, o uso da substância por gestantes aumenta drasticamente os riscos. O consumo de bebidas alcoólicas durante a gestação pode provocar parto prematuro, aborto, morte fetal e deficiências físicas, comportamentais, cognitivas, sociais e motoras. Os danos vão desde disfunções mais sutis até um quadro completo da Síndrome Alcoólica Fetal (SAF), o transtorno mais grave de desordens fetais alcoólicas, que pode ocorrer na criança quando a mãe consome bebida alcoólica durante a gestação, com inúmeras manifestações. Os efeitos da SAF são resultados da interferência na formação cerebral, em especial na proliferação normal e migração dos neurônios que não se desenvolvem completamente em certas estruturas e podem acarretar alterações congênitas, anomalias do sistema nervoso central, retardo no crescimento e prejuízos no desenvolvimento cognitivo e comportamental.

Comportamentos e contexto cultural
Na dependência do álcool, conforme Leão, as mulheres, por serem mais censuradas socialmente, bebem, predominantemente, em casa. Já os homens consomem em público, em bares, com os amigos, voltando para casa embriagados. Normalmente, o uso de álcool e outras drogas pelas mulheres acontece a partir da ocorrência de determinados eventos, como a morte do cônjuge ou uma separação, diferentemente do que acontece com os homens, que não apontam um desencadeamento especial. Na iniciação da cocaína, os motivos femininos passam por depressão, sentimentos de isolamento social, pressões profissionais e familiares e problemas de saúde.
 
As pesquisas mostram que os homens são os que mais consomem substâncias químicas, mas o índice das mulheres está crescendo. Inclusive, “se considerarmos apenas as dependências de medicamentos (principalmente anfetaminas e benzodiazepínicos) as mulheres são maioria”, afirma o psiquiatra.

Para Leão, atualmente, os pais e cuidadores ainda tratam as crianças e adolescentes de maneiras diferentes. O adolescente, normalmente, é até estimulado a consumir drogas (fumar e beber sendo considerados comportamentos masculinos e adultos), já a adolescente é mais contida. “Mas esse aspecto cultural está rapidamente se transformando, pelo menos no ocidente. Por isso, a curva de crescimento do número de mulheres dependentes químicas é mais acentuada que a dos homens. Se não houver mudanças culturais, em breve a proporção de homens e mulheres dependentes deverá se igualar”, afirma.

Diálogo como ferramenta de prevenção
A dependência química é uma doença que afeta de 10 a 15% da população mundial, não escolhe gênero, raça, classe social, nem escolaridade. Os efeitos e as consequências do uso abusivo das substâncias estão evoluindo de maneira drástica ao longo dos anos, afetando diferentes segmentos da sociedade, gerando e agravando doenças e incitando diversas formas de violência e acidente. Diante do modo de vida atual, é preciso que a sociedade discuta mais a respeito do tema para melhor compreender a dimensão do problema, principalmente em relação ao álcool, que tem grande aceitação social e faz parte de questões culturais da sociedade. O diálogo nos ambientes familiar, escolar e profissional ainda é uma das principais maneiras de combater as drogas.

Um comentário:

  1. É muito comum ter dúvidas sobre como funciona uma clínica de recuperação. Certamente, algumas perguntas já passaram pela sua cabeça, por exemplo: que tipo de tratamento é feito? Quanto tempo leva para alguém se restabelecer?
    http://blog.viversemdroga.com.br/como-funciona-uma-clinica-de-recuperacao/

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