Mulheres representam 27% dos pacientes da Clínica Nova
Esperança.
Hoje, Dia Internacional da Mulher, nada mais apropriado do
que falar a respeito do envolvimento das mulheres com o álcool e outras drogas,
que vem aumentando a cada dia em meio ao contexto histórico de lutas e
conquistas sociais, econômicas e políticas do sexo feminino. Atuando há 27 anos
no tratamento da dependência química, a equipe terapêutica da Clínica Nova Esperança
percebeu que o envolvimento das mulheres com as drogas começou a partir da
década de 1970. “Eram mulheres excepcionalmente alcoolistas ou dependentes de
medicamentos, algumas usuárias de maconha e outras poucas de cocaína”, conta
Aracélis Canelada Copedê, diretora geral. Quando a clínica foi fundada, as
mulheres representavam no máximo 10% dos internamentos. Em 2013, o índice subiu
para 20% e, atualmente, elas representam 27% dos pacientes. Outras pesquisas
também comprovam o crescimento do envolvimento delas com as drogas. Segundo o
Ministério da Saúde, houve um aumento de 30% no abuso de álcool entre mulheres,
entre os anos 2006 e 2010. Dados da Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp), divulgado em 2012, aponta um índice de 54% de dependência de crack
entre mulheres, contra 46% entre os homens. O levantamento indica ainda que 40%
das usuárias fizeram uso de drogas mais de duas vezes por semana, enquanto 24%
dos homens afirmaram o mesmo.
O organismo feminino é mais suscetível aos efeitos do álcool
O índice de consumo de álcool por homens é mais alto, mas,
no contexto atual, as mulheres estão caminhando para beber tanto quanto eles.
No entanto, o organismo feminino é mais frágil e suscetível aos efeitos nocivos
da substância. As mulheres correm mais riscos que os homens na maioria das
doenças porque o organismo delas tem níveis menores da enzima
(álcool-desidrogenase) que ajuda a metabolizar o álcool ingerido, o que provoca
uma concentração plasmática de álcool cerca de 30% mais alta do que em um homem,
como explica o médico psiquiatra da Clínica, José Leão de Carvalho Junior. O
volume de sangue das mulheres também é menor, sendo assim, a mesma quantidade
de qualquer droga ingerida por uma mulher e um homem acarreta uma concentração
sanguínea maior na mulher.
Muito se fala no benefício do consumo moderado de bebidas
alcoólicas. No entanto, o psiquiatra ressalta que não existe uma quantidade que
seja inócua para o organismo, seja para o homem ou para a mulher. O que o
álcool provoca é um prazer que, pelo gosto e pelas alterações psíquicas, pode
causar relaxamento e sonolência, assim como redução do senso crítico. “Quanto
menos beber, melhor. Ou, quanto menos beber, menos pior”, salienta.
As principais doenças causadas pelo álcool e outras drogas,
de acordo com o médico, são: demência, depressão, psicoses, distúrbios
neurológicos, gastrite, úlcera, câncer de estômago, hepatite, esteatose,
cirrose, câncer de fígado, varizes de esôfago, hemorroidas, varizes em membros
inferiores, arritmias cardíacas, infarto do miocárdio, impotência sexual
(frigidez no caso das mulheres), tromboses, embolias, acidentes vasculares
cerebrais, anemia, distúrbios da coagulação, distúrbios imunológicos, diabetes,
pancreatites, câncer de pâncreas, entre outras.
Álcool durante a gestação
Se a ingestão de álcool pode prejudicar o organismo,
causando inúmeras doenças, o uso da substância por gestantes aumenta
drasticamente os riscos. O consumo de bebidas alcoólicas durante a gestação
pode provocar parto prematuro, aborto, morte fetal e deficiências físicas,
comportamentais, cognitivas, sociais e motoras. Os danos vão desde disfunções
mais sutis até um quadro completo da Síndrome Alcoólica Fetal (SAF), o
transtorno mais grave de desordens fetais alcoólicas, que pode ocorrer na criança
quando a mãe consome bebida alcoólica durante a gestação, com inúmeras
manifestações. Os efeitos da SAF são resultados da interferência na formação
cerebral, em especial na proliferação normal e migração dos neurônios que não
se desenvolvem completamente em certas estruturas e podem acarretar alterações
congênitas, anomalias do sistema nervoso central, retardo no crescimento e
prejuízos no desenvolvimento cognitivo e comportamental.
Comportamentos e contexto cultural
Na dependência do álcool, conforme Leão, as mulheres, por
serem mais censuradas socialmente, bebem, predominantemente, em casa. Já os
homens consomem em público, em bares, com os amigos, voltando para casa
embriagados. Normalmente, o uso de álcool e outras drogas pelas mulheres
acontece a partir da ocorrência de determinados eventos, como a morte do
cônjuge ou uma separação, diferentemente do que acontece com os homens, que não
apontam um desencadeamento especial. Na iniciação da cocaína, os motivos
femininos passam por depressão, sentimentos de isolamento social, pressões
profissionais e familiares e problemas de saúde.
As pesquisas mostram que os homens são os que mais consomem
substâncias químicas, mas o índice das mulheres está crescendo. Inclusive, “se
considerarmos apenas as dependências de medicamentos (principalmente
anfetaminas e benzodiazepínicos) as mulheres são maioria”, afirma o psiquiatra.
Para Leão, atualmente, os pais e cuidadores ainda tratam as crianças e adolescentes de maneiras diferentes. O adolescente, normalmente, é até estimulado a consumir drogas (fumar e beber sendo considerados comportamentos masculinos e adultos), já a adolescente é mais contida. “Mas esse aspecto cultural está rapidamente se transformando, pelo menos no ocidente. Por isso, a curva de crescimento do número de mulheres dependentes químicas é mais acentuada que a dos homens. Se não houver mudanças culturais, em breve a proporção de homens e mulheres dependentes deverá se igualar”, afirma.
Para Leão, atualmente, os pais e cuidadores ainda tratam as crianças e adolescentes de maneiras diferentes. O adolescente, normalmente, é até estimulado a consumir drogas (fumar e beber sendo considerados comportamentos masculinos e adultos), já a adolescente é mais contida. “Mas esse aspecto cultural está rapidamente se transformando, pelo menos no ocidente. Por isso, a curva de crescimento do número de mulheres dependentes químicas é mais acentuada que a dos homens. Se não houver mudanças culturais, em breve a proporção de homens e mulheres dependentes deverá se igualar”, afirma.
Diálogo como ferramenta de prevenção
A dependência química é uma doença que afeta de 10 a 15% da
população mundial, não escolhe gênero, raça, classe social, nem escolaridade.
Os efeitos e as consequências do uso abusivo das substâncias estão evoluindo de
maneira drástica ao longo dos anos, afetando diferentes segmentos da sociedade,
gerando e agravando doenças e incitando diversas formas de violência e
acidente. Diante do modo de vida atual, é preciso que a sociedade discuta mais
a respeito do tema para melhor compreender a dimensão do problema,
principalmente em relação ao álcool, que tem grande aceitação social e faz
parte de questões culturais da sociedade. O diálogo nos ambientes familiar,
escolar e profissional ainda é uma das principais maneiras de combater as
drogas.
É muito comum ter dúvidas sobre como funciona uma clínica de recuperação. Certamente, algumas perguntas já passaram pela sua cabeça, por exemplo: que tipo de tratamento é feito? Quanto tempo leva para alguém se restabelecer?
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